2 de dezembro de 2021, Mariela Carrasco

O que é a teoria? – Uma abordagem de José Padrón-Guillén

“As teorias científicas não são algo absolutamente estranho às nossas próprias experiências quotidianas, em cujas estruturas cognitivas encontramos o germe das próprias estruturas da ciência”.

José Padrón-Guillén

Por: Dra. Dorys Alleyne Nesta oportunidade partilho uma breve dissertação sobre o artigo O que é teoria? Baseado nos estudos do Dr. José Padrón-Guillén+, pesquisador venezuelano, especialista em análise do discurso, epistemologia e filosofia, que considero útil para aqueles que estão construindo o arcabouço teórico de suas pesquisas. Em seus estudos, Padrón apresenta os diversos usos atribuídos ao termo teoria e, nesse sentido, faz referência a alguns autores como: J.A. Carter, Morris Cohen, James A. Froude, William Hazle, entre outros. Dentre alguns dos significados dados ao termo teoria apresentados por Padrón, destacam-se os seguintes: Para além do acima exposto, Padrón indica que o termo teoria é polissémico, e isto pode ser visto em 3 esferas: Vida quotidiana: Nesta esfera, a teoria é aplicada a coisas e acontecimentos diferentes, dependendo da situação. Científica: Esta esfera afirma que a teoria e o seu significado variam de acordo com determinadas funções operacionais no processo de produção de conhecimento. Epistemológica: A aplicação da teoria muda consoante a abordagem, a posição ou o paradigma do processo de investigação. Padrón indica ainda que o termo é polissémico e aplica-se à interpretação de dados mentais de diversas origens, tais como: dados mentais explicativos do mundo, dados mentais descritivos, dados mentais regulativos ou prescritivos, juízos de realidade verificáveis e não verificáveis. Segundo o autor, o termo teoria é também aplicável para designar o conjunto global de realizações de um trabalho científico, para um produto científico geral, para designar hipóteses particulares ou universais e, para credenciar um modelo universalmente explicativo com suporte de construção semiótica. Além disso, falar de teoria implica a construção de esquemas de unificação sistemática que remetem para a universalidade, implica também a definição de um conjunto de meios de representação concetual e simbólica, sendo de notar que esses meios devem ser simples, claros e eficazes. Nesta ordem de ideias, a teoria implica a construção de um conjunto de regras de inferência que permitam a previsão de dados factuais. Segundo Padrón, quando a teoria é comparada com a prática, é comum considerá-la como um pólo alternativo a esta, como uma doutrina do pensamento e, ao mesmo tempo, como uma representação generalizada e verificável de uma realidade externa. A partir da epistemologia, Padrón afirma que a teoria pode ser vista como uma representação universal abstrata, explicativa, sistemática, socializada e contrastável (suscetível de crítica e rejeição). Tendo em conta o exposto, vejamos como, segundo Padrón, podemos observar a teoria a partir de diferentes abordagens epistemológicas: Relativamente à teoria e ao conhecimento ordinário, Padrón indica que existem duas instâncias significativas quando nos referimos à teoria: Instância descritiva, baseada numa organização de dados. Instâncias de construção de relações de interdependência entre dados (explicativas). No que diz respeito ao conhecimento explicativo, segundo o autor, deve ficar claro que toda a representação condicional é provisória e tem um carácter experimental, as teorias nunca são definitivas, são avaliáveis e examináveis. É importante salientar que este tipo de conhecimento avança progressivamente para a construção de representações condicionais que, em conjunto, nos permitem mapear o mundo na nossa mente. Além disso, este conhecimento tem um carácter crítico e assenta num meta-mecanismo de contraste que se opõe ao dogmático. Pontos de contraste e encontro com outros autores O que Padrón (1994) afirma pode ser contrastado com o que outros autores afirmam a este respeito, como é o caso de Novak (1993), que defende que os processos psicológicos através dos quais as pessoas constroem novos conhecimentos são, em primeiro lugar, os mesmos que os utilizados pelos cientistas em qualquer disciplina que construa novos conhecimentos. Assim, em ambas as abordagens, a construção do conhecimento é vista como um processo complexo da capacidade humana de criar significado a partir do seu contexto cultural e de mudanças evolutivas nas estruturas para o desenvolvimento de conhecimento relevante e pertinente, bem como nos meios de o adquirir. Do ponto de vista de Kuhn (1989), os sujeitos cognitivos são cientistas intuitivos e compreendem o mundo através da construção e revisão constante de modelos mentais. Neste sentido, apesar de referir ou sustentar a sua abordagem no intuitivo, Kuhn (1989), considera que todo o ser humano é capaz de antecipar teorias já formalizadas, distinguindo as evidências válidas das que não o são, para o que possui um tipo de raciocínio muito semelhante ao de um cientista profissional. Por seu lado, Nisbeth e Ross (1980) consideram que o sujeito cognoscente é: Um intérprete ativo Capaz de resolver ambiguidades Fazendo suposições Fazendo inferências Fazer associações Estabelecer relações de causa e efeito sobre objectos e acontecimentos. Segundo estes autores, estas acções baseiam-se num tipo de conhecimento genérico que as pessoas possuem e que, juntamente com as suas concepções prévias do mundo, fornecem a base para as suas interpretações, contribuindo assim para a criação da sua visão do mundo. Em contraste com estas abordagens, os estudos de Piaget (1980) concordam que o sujeito cognitivo é caracterizado pela curiosidade e pelo espírito inquisitivo; desde muito cedo, as crianças começam a fazer teorias intuitivas sobre os fenómenos naturais. Em entrevistas com crianças pequenas, Piaget (1980) verificou que as suas concepções do mundo sobre o movimento das nuvens, o dia e a noite, o aparecimento do sol e da lua, e até mesmo o conceito de vida, eram caracterizadas pelo animismo, em que atribuem estados intencionais e traços humanos ao inanimado. Neste sentido, as crianças pequenas baseiam-se na sua experiência pessoal e nas suas observações para construir o conhecimento. O seu pensamento é frequentemente descrito como intuitivo, porque o seu raciocínio se baseia em experiências imediatas. Neste percurso complexo de construção do conhecimento, durante a puberdade e a adolescência, a criança começa a adquirir a capacidade de aplicar a lógica à resolução de problemas de uma forma mais sistemática e o seu pensamento torna-se mais flexível. Do mesmo modo, a criança atinge a abstração reflexiva e, a partir dos 12 anos, já raciocina logicamente e o seu pensamento aplica a lógica proposicional, o raciocínio científico e combinatório sobre probabilidades e proporções. Isto permite-lhe formular hipóteses e compará-las com os factos, excluindo as que se revelam falsas; é o que Piaget designa por pensamento hipotético-dedutivo. No entanto, outro autor que tem uma perspetiva contrastante com as abordagens de Padrón (1994) é Vygotsky (1978), que considera que o sujeito cognitivo constrói o seu conhecimento não como um processo individual, mas como um processo fundamentalmente social, em que as funções mentais superiores são o produto de uma atividade mediada pela sociedade. Também Vygotsky (1978) defende que as funções cognitivas elementares são transformadas em actividades de ordem superior através de interacções com adultos e pares mais conhecedores. Este autor considera que o processo de construção do conhecimento se dá através do processo de internalização, que é o desenvolvimento de representações internas de acções físicas ou operações mentais que ocorrem inicialmente nas interacções sociais. Em jeito de conclusão A teoria é, afinal, uma tarefa espontânea que, sem se aperceber conscientemente, todo o ser humano constrói, inicialmente de forma intuitiva, e que nos permite ter uma ideia das coisas e dos acontecimentos que se passam à nossa volta. Na vida quotidiana, teorizamos constantemente sobre coisas, situações e pessoas, e na resolução de problemas temos a oportunidade de aplicar as diferentes instâncias de produção de conhecimento descritas por Padrón (1994), que constituem os andaimes para consolidar níveis de pensamento cada vez mais profundos e complexos. Em suma, esta forma de teorizar não se afasta, antes se assemelha, à utilizada pelos cientistas profissionais na construção de teorias e, de acordo com o que afirma Padrón (1994), considero que o ser humano é dotado desse “germe”, como lhe chama o autor, para construir conhecimento, para avançar no raciocínio e, portanto, para construir teorias sobre as coisas, a vida, o amor e a procura constante de respostas para as incógnitas e enigmas da nossa complexa existência. Referências O que é a “teoria”? José Padrón G., In Chacín, M. e Padrón, J. (1994): Investigación y Docencia. Caracas: Publicaciones del Decanato de Postgrado, USR, Venezuela.
Sobre la autora: Dra. Dorys Alleyne Docente en Universidad ISEP. Investigadora, con formación inicial en Educación y Psicología. Magister Scientiarum en Psicología, Mención Psicología del Desarrollo Humano, especialista en Asesoramiento y Consulta Familiar Doctora Latinoamericana en Educación. Diplomada en el área de coaching ontológico, siendo lifecoach activo, coach educativo con énfasis en neurociencia, psicología positiva y PNL. Visita sus redes oficiales:
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