Por: Professora Tania Torres A integração do estudante com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade na sala de aula do ensino fundamental implica hoje um processo de conscientização por parte do docente em dois aspectos fundamentais: 1.- Conhecimento das causas e efeitos a nível neuropsicológico sobre o TDAH e suas implicações no desenvolvimento comportamental da criança dentro do seu contexto escolar, social e familiar. 2.- Domínio de competências didáticas e pedagógicas de manejo e aplicação nas diversas estratégias-chave da neurodidática em benefício dos processos de ensino e aprendizagem realizados na sala de aula do ensino fundamental para crianças com TDAH.
O TDAH: o início Em primeiro plano, é necessário abordar o conhecimento das causas e efeitos a nível neuropsicológico sobre o TDAH e suas implicações no desenvolvimento comportamental da criança, além de suas incidências no desempenho escolar, social e familiar. Neste âmbito, é relevante que o docente conheça a origem, concepção e características do TDAH para poder planejar, executar e avaliar pedagogicamente ações sobre realidades concretas na sala de aula. Em primeiro lugar, é necessário definir o TDAH, que constitui um transtorno do tipo IV no conjunto de patologias que fazem parte das dificuldades de aprendizagem, o que torna o trabalho mais árduo e difícil para o docente se ele não dominar as ferramentas necessárias para sua abordagem e integração. O TDAH “se caracteriza por uma série de disfunções cognitivas ou neuropsicológicas que, junto com as manifestações comportamentais, produzem um impacto generalizado em diferentes áreas do desenvolvimento” (Romero e Lavigne 2005), onde a conduta da criança mostra respostas inadequadas e, da mesma forma, obtém pouca compreensão por parte dos que a rodeiam. No entanto, com terapia psicoeducativa, a gravidade do problema diminui significativamente. De igual forma, é importante acrescentar que, para determinar um diagnóstico de TDAH, devem estar presentes pelo menos seis critérios de desatenção, três de hiperatividade e um de impulsividade. Os mesmos devem aparecer antes dos sete anos de idade e em diferentes contextos ou cenários. Agora, muitos podem se perguntar: qual é a origem neuropsicológica que produz o TDAH? Para responder a essa pergunta, é necessário situar-se na neurobiologia porque “a etiologia do TDAH é neurobiológica, com alta incidência em fatores genéticos e neurobiológicos” (Romero e Lavigne 2005 p. 132). Ou seja, os fatores biológicos perinatais e socioeducativos têm efeitos importantes na “patogênese”, no desenvolvimento comportamental da criança e na evolução do transtorno. Nesse sentido, e no que se refere à sua precedência genética e biológica, no cérebro da criança, foi possível determinar, de acordo com as diferentes meta-análises sobre o TDAH, a identificação de alguns genes que poderiam contribuir para sua susceptibilidade e a descoberta de uma “imaturidade nos sistemas de neurotransmissão, especialmente nos circuitos dopaminérgicos e noradrenérgicos e, em menor medida, nos serotoninérgicos” (Cantallop 2015 p. 133). Com tais erros, há menos dopamina nos processos de “sinapse cerebral”, correlacionados com os sistemas de recompensa e motivação, além de baixos níveis de noradrenalina, o que afeta o desempenho das funções executivas, e menos níveis de serotonina, afetando de forma importante os estados de ânimo da criança. Portanto, já conhecendo a origem neuropsicológica do TDAH, também é necessário conhecer alguns dos fatores externos que podem desenvolver esse transtorno: (1) a contaminação por chumbo pode produzir distrações, hiperatividade e falta de atenção; (2) o consumo de nicotina ou álcool durante a gravidez; (3) o baixo peso ao nascer, a má alimentação da mãe e (4) a eclâmpsia, o estresse fetal e as hemorragias antes do parto. Além disso, podem ser acrescentados fatores psicofamiliares como famílias numerosas, baixo nível econômico, adoções e famílias disfuncionais, entre outros.
Melhorando o desenvolvimento comportamental da criança com TDAH na sala de aula do ensino fundamental Após abordar o desenvolvimento do TDAH na criança, também é importante que o docente tenha conhecimento sobre algumas estratégias de terapias psicopedagógicas fundamentadas na neurodidática, que podem ser de grande ajuda ao desenvolver uma melhor integração na sala de aula do ensino fundamental em situações concretas, onde se observam déficits na planejamento, abstração, resolução de problemas, ordenação temporal de estímulos, planejamento, formação de conceitos, desenvolvimento e implementação de estratégias metacognitivas. Portanto, sugere-se trabalhar com a criança com TDAH de acordo com as deficiências e desenvolvimento comportamental apresentados pela mesma. A esse respeito, Fernández A, Caraballo e Venturi J. (2021) estabelecem os componentes executivos básicos, que devem ser intervencionados com estratégias neurodidáticas: A alternância que implica a capacidade de mudar de maneira flexível entre várias operações mentais ou esquemas. Nessa função, as atividades que estimulam a neuroplasticidade cerebral, apresentando cenários de aprendizagem que permitam a troca de conhecimentos, contextos e situações, fortalecem o processo sináptico no cérebro da criança. A permanência e organização na memória de trabalho: para essa função executiva, pode-se trabalhar com a realização de organizadores gráficos, especialmente a construção de mapas mentais, sendo uma ferramenta divertida e prática para estudantes de qualquer idade. A utilização dessa estratégia é conveniente para as crianças com TDAH, pois as ajuda a planejar, organizar e memorizar padrões de trabalho. De igual modo, uma excelente estratégia para a flexibilidade cognitiva, que “é a capacidade de alternar entre diferentes critérios de atuação, conjuntos mentais ou operações de acordo com as exigências cambiantes do contexto” (Caceres e Vera, 2019 p.22), é o uso de atividades aplicadas em cenários reais, permitindo investigar, experimentar e indagar, estimulando o pensamento criativo e a tomada de decisões de forma imprevista, assim como a resolução de problemas de forma organizada. Com a mencionada estratégia, aborda-se imediatamente a exploração e a retroalimentação, que constituiria outra estratégia-chave da neurodidática, para estimular a capacidade de autossuficiência, autogestão e autonomia no desempenho e desenvolvimento de atividades escolares, assim como se adaptar a novas situações, esquemas e aprendizagens. A esse conjunto de estratégias podem ser adicionadas as “neuronas espelho”, uma excelente estratégia neuroeducativa que envolve o exemplo do docente e de seus próprios pares, porque demonstra, sob a observação de certas condutas planejadas, a reciprocidade e a tática dentro da cotidianidade do contexto escolar. Para concluir, pode-se sugerir a estimulação e desenvolvimento da “capacidade estratégica e cooperação” por meio do design de estratégias didáticas que impliquem movimento e que, embora dentro da sala de aula os espaços sejam limitados, certas atividades de jogos em equipe, que envolvam movimentos definidos sem velocidade, podem ser adaptadas. Essas estratégias são excelentes para a oxigenação do cérebro, bem como para a ativação do estudante (ibid). Em definitivo, no contexto escolar, a neuroplasticidade cerebral implica que as condutas ao longo da vida podem ser otimizadas, incluindo os transtornos inerentes ao processo de aprendizagem, especialmente o TDAH, que não implica uma exceção para ser melhorado por meio da psicoterapia educativa. Claro, essas estratégias aplicadas pelo docente não terão maior sucesso se não incluírem as ferramentas emocionais que permitam o equilíbrio e desenvolvimento da conduta da criança de forma integral e coesa, com respostas positivas, estimuladoras e flexíveis à conduta humana.
Bibliografia Cáceres, L., & Vera, A. (2019). Claves de la Neuroeducación: Mejorar Los Procesos de Aprendizaje. Copyright © Todos los derechos reservados de autor Luz Dary Cáceres y Alberto Vera. Conoce el secreto detrás de la Neuroeducación. Cantallops, A. (2015). Neuropsicología Pediátrica. Casa del Libro. https://www.casadellibro.com/libro-neuropsicologia-pediatrica/9788490771938/2621448 Fernández, A., Caraballo, Y., & Venturi, J. (2021). Dificultades ante el Aprendizaje: Un Abordaje Multidisciplinario. https://www.fhuce.edu.uy/index.php/ciencias-de-la-educacion/publicaciones-educacion/8144-libro-dificultades-ante-el-aprendizaje-un-abordaje-multidisciplinario-ana-maria-fernandez-caraballo-y-joaquin-venturni-corbellini-direccion Romero, M., & Lavigne, R. (2005). Materiales para la Práctica Orientadora. Volumen No 1. CONSEJERÍA DE EDUCACIÓN. https://www.uma.es/media/files/LIBRO_I.pdf