Conhecer como o cérebro processa a informação melhora os processos educativos.
Por outro lado, a intervenção dos professores é fundamental para introduzir a neuroeducação nas salas de aula e criar novos modelos educativos orientados para o desenvolvimento das capacidades específicas do cérebro de cada criança.
A neurociência considera os processos educativos como processos cerebrais nos quais o cérebro reage a um estímulo, analisa-o, processa-o, integra-o e executa-o. Estes processos são variáveis devido à constante mudança cerebral como consequência da interação com o meio ambiente (tanto a nível biológico quanto experiencial), com especial incidência na fase infantil, que determina sua estrutura e funcionamento. O cérebro está continuamente percebendo, processando e integrando informações, o que leva a mudanças nas conexões e redes neuronais cerebrais. Nesse sentido, o início da estimulação ambiental regulamentada, as emoções, a motivação e a aprendizagem através da ação são essenciais para o seu desenvolvimento ótimo. Grande parte do trabalho de pesquisa do Dr. Tomás Ortiz Alonso, Catedrático do Departamento de Psiquiatria e Psicologia Médica da Universidade Complutense de Madrid, concentra-se em aproximar os conhecimentos da neurociência à educação. O Dr. Ortiz destaca em sua obra ‘Neurociência e Educação’ (Alianza Editorial, 2009) a importância da neurociência neste âmbito: as descobertas sobre o cérebro podem contribuir para a melhoria das aprendizagens de crianças e adolescentes. A estrutura cerebral vai se modificando ao longo da vida, e a fase escolar é uma das mais sensíveis a essa mudança. No aprendizado escolar, influenciam diversos fatores (genéticos, instrutivos, contextuais, biográficos, etc.).
Conhecer como o cérebro funciona é uma grande ajuda para a educação Um processo de ensino coerente com a neurociência e seus avanços possibilitaria modificar e modular as estruturas cerebrais que subjazem aos diferentes processos de aprendizagem e melhorar as capacidades de cada criança. Para alcançar esse objetivo, o Dr. Ortiz aponta que “conhecer como o cérebro processa a informação, a aprende, a processa, a executa e toma decisões será de grande ajuda para o ensino específico de processos cognitivos e para a educação geral do indivíduo”. Seu trabalho parte do estudo profundo da neuroanatomia e trata dos componentes fundamentais do processo cerebral de integração de conhecimentos: atenção, memória, emoções, motivação, linguagem, resolução de problemas, etc., para posteriormente extrair interessantes aplicações para o campo da educação. Estudos com neuroimagem apoiam a ideia de que, embora os processos de maturação tenham um grande desenvolvimento na infância, também ocorrem após a puberdade, coincidindo com o desenvolvimento de processos cognitivos complexos. No entanto, ainda se desconhece o efeito do estado neurofisiológico do cérebro durante o processo de tal estimulação (aprendizagem ou lembrança). De todos os ritmos cerebrais associados a funções cognitivas, parece ser que a faixa theta é a mais associada a processos de memória: manifesta uma extensa atividade ao longo de todo o cérebro e principalmente no sistema hipocampal, que é considerado básico para a memória. Este fato, aponta o Dr. Ortiz, “nos leva a valorizar a importância de ambientes relaxados, tranquilos e sem ruído se quisermos fortalecer os processos de aprendizagem escolar”.
O exercício e o trabalho em equipe são fundamentais para o bom desempenho escolar Alguns aspectos de suma importância na melhoria da aprendizagem escolar e que favorecem um bom neurodesenvolvimento cerebral e cognitivo (que terá seus melhores resultados ao longo de toda a vida) são o exercício físico e as atividades em grupo, uma boa educação do sono, uma correta nutrição da criança (tanto nos aspectos de conteúdo de proteínas, oligoelementos, vitaminas, etc.) e um ambiente emocionalmente estável junto a uma estimulação rica, nova e organizada, tanto em casa quanto na escola. Em muitas das palestras do Dr. Ortiz, destaca-se o importante papel dos pais em um modelo neuroeducativo: devem gerar em casa um ambiente rico em experiências culturais, estímulos educativos, culturais e de conhecimentos escolares, assim como uma atitude positiva em relação ao estudo, favorecer um ambiente musical com pouca televisão, vigiar o sono, a nutrição e a hidratação da criança, favorecer um ambiente emocional estável, tranquilo e comunicativo, etc.
Os pais não devem esquecer a importância do movimento nos processos de aprendizagem e, nesse sentido, devem garantir que seus filhos façam todos os dias alguns minutos de exercícios motores de equilíbrio, precisão, sequenciação e coordenação de movimentos (engatinhar, seguir uma linha com os olhos abertos e fechados e as mãos estendidas, ficar alguns segundos em um pé só, etc. são básicos para a melhoria da aprendizagem escolar). Além disso, também devem brincar todos os dias alguns minutos com seus filhos com um objetivo pedagógico.
Professores são promotores da neuroeducação em suas escolas e salas de aula Por outro lado, a intervenção dos professores é fundamental para introduzir a neuroeducação nas salas de aula e criar novos modelos de ensino orientados ao desenvolvimento das capacidades específicas do cérebro de cada criança, para criar um ambiente escolar estimulante positivo com conteúdos acadêmicos curtos e precisos, aulas muito dinâmicas e inovadoras, aumentar a motivação, dar maior importância à educação física e musical, e sempre trabalhar em um ambiente relaxado que favoreça a atenção, memória e aprendizagem nas aulas. É fundamental a formação do corpo docente em neurociência e que conheçam os últimos avanços no conhecimento das funções cerebrais e sua aplicação ao âmbito escolar. “Em outras palavras, sabemos que o professor sabe ensinar conteúdos que favorecem os processos cognitivos, mas ele deve aprender a ensiná-los nas melhores condições possíveis à luz dos novos conhecimentos sobre como o cérebro atende, aprende, memoriza e resolve problemas”. Esta foi uma das conclusões mais aplaudidas do Dr. Ortiz no XIV Congresso de Cooperativas de Ensino.