14 de julho de 2021, Mariela Carrasco

O neuropsicólogo nas olimpíadas: Peça chave e secreta dos atletas de alto rendimento

A neuropsicologia é o estudo da relação do sistema nervoso com os processos mentais. Busca conhecer o funcionamento cerebral do esportista.

Há um ano, relatava-se que os atletas estavam passando por estágios semelhantes ao luto e à frustração após o adiamento das Olimpíadas de Tóquio. Naquela época, recomendava-se que os atletas focassem no que podiam controlar e mantivessem uma atitude proativa diante da dificuldade, desenvolvendo rotinas de exercícios durante o isolamento, mantendo uma boa alimentação e trabalhando o esquema mental do “aqui e agora”. Além disso, os especialistas recomendavam que, se as emoções negativas persistissem, os atletas procurassem terapia com seus psicólogos e neuropsicólogos. No entanto, o tempo passou e as Olimpíadas de Tóquio 2020 ocorrerão em poucos dias, entre 23 de julho e 8 de agosto de 2021. A reunião dos melhores atletas para competir em 80 disciplinas esportivas nos fez questionar o papel do neuropsicólogo na preparação de atletas de alto rendimento. O trabalho do neuropsicólogo no esporte permite o monitoramento do funcionamento cognitivo do atleta, visando melhorar seu desempenho. As equipes de neurocientistas no esporte realizam revisões periódicas e testes neuropsicológicos para detectar possíveis alterações cognitivas resultantes da prática esportiva. Em dois momentos do processo esportivo, o neuropsicólogo desempenha um papel crucial: Durante a fase de contratação, seleção ou convocação do atleta, com o objetivo de avaliar sua condição neuropsicológica, seus processos mentais fundamentais e seu domínio emocional-comportamental. Durante todo o processo de treinamento e formação, com o objetivo de monitorar os aspectos neuropsicológicos relacionados ao seu desempenho (memória, atenção, percepção visual e auditiva) e realizar avaliações periódicas de seu sistema nervoso para antecipar possíveis lesões ou desgastes cognitivos. Qual é o objetivo da neuropsicologia esportiva? A neuropsicologia é o estudo da relação entre o sistema nervoso e os processos mentais. No esporte, busca-se entender o funcionamento cerebral do atleta e os processos mentais que influenciam seu desempenho e comportamento. Além disso, estudam-se as emoções dos atletas, mas esse estudo é realizado a partir da influência que sua composição cerebral ou córtex cerebral pode ter sobre essas emoções. Assim, juntamente com o psicólogo, os neuropsicólogos adotam estratégias para o desenvolvimento adequado dos mecanismos neuronais e psicológicos do atleta. A maioria das pesquisas em neuropsicologia tem se concentrado no estudo das neuropatologias associadas à atividade esportiva. Por essa razão, a bibliografia mais extensa aborda estudos sobre concussões cranioencefálicas e a recuperação pós-traumática do atleta. Neste cenário olímpico, as avaliações neuropsicológicas são úteis para determinar a reincorporação do atleta às suas atividades esportivas. Também são funcionais para determinar o grau de comprometimento ou desenvolvimento da atenção, memória, localização espacial e aprendizado como processos psicológicos maiores. O papel do neuropsicólogo nos Jogos Olímpicos, muitas vezes despercebido por muitos, é na realidade fundamental para o bom desempenho do atleta, especialmente após a recuperação de qualquer lesão craniana, por mais leve que seja. A neuropsicologia aplicada ao esporte também se dedica a caracterizar o atleta de alto rendimento. Embora em menor escala, começam a surgir estudos para avaliar o perfil do atleta de alto rendimento, que servem tanto para a seleção e identificação de novos talentos quanto para a retroalimentação do atleta durante o treinamento. Esses estudos determinaram que o atleta de alto rendimento, ao contrário do mito de que possui pouca capacidade intelectual, apresenta altos níveis de funcionamento neurológico, especialmente em atenção, memória, agnosia e praxias. Ou seja, são pessoas que colocam sua inteligência a serviço do esporte. Doenças neuropsicológicas associadas ao esporte de alto rendimento Em 2017, um estudo publicado no Journal of American Medical Association encontrou lesões cerebrais em 99% dos ex-jogadores da NFL (Liga Profissional de Futebol Americano). Ou seja, 109 dos 110 ex-jogadores de futebol americano avaliados apresentaram danos neurológicos a longo prazo, diretamente relacionados à prática esportiva. As lesões identificadas como Encefalopatia Traumática Crônica (CTE) resultam de golpes incessantes na cabeça e causam danos degenerativos ao cérebro, sendo esse tipo de doença também frequente em boxeadores. Em alguns casos, esses traumas terminam em demências. Outras doenças neurológicas associadas ao esporte incluem: Síndrome do segundo impacto Contusão cerebral aguda Demência pugilística Como você pode ver, a neuropsicologia é uma profissão que tem espaço no esporte, especialmente em equipes de alto rendimento e delegações olímpicas. Portanto, se você é neuropsicólogo, pode considerar essa área de atuação e começar a relacionar suas pesquisas e trabalhos de campo com o esporte e o estudo do cérebro do atleta. Sem dúvida, uma área com muito a inovar e descobrir.
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