Humanizando a saúde mental com o psicólogo clínico Ángel Reverol
Graduado no Mestrado em Psicologia Clínica e da Saúde da Universidade ISEP, Ángel Reverol enfatiza que a humanização da depressão envolve empatia, ajuda, escuta e respeito às emoções humanas, sem julgamento ou avaliação.
Em conversa com o psicólogo clínico Ángel Reverol, formado no Mestrado em Psicologia Clínica e da Saúde da Universidade ISEP, foi destacada a importância de humanizar a saúde mental e apoiar quem sofre de depressão. Reverol iniciou sua participação, disponível na conta do Instagram da Universidade ISEP, indicando que as pessoas geralmente associam a depressão a algo externo. Mas esse não é necessariamente o caso. “Associamos a depressão a ‘eu estou deprimido ou ele está deprimido porque lhe aconteceu alguma coisa’, mas nem sempre é esse o caso”. A depressão também ocorre em situações de desequilíbrio hormonal, devido a uma grande mudança nos processos cerebrais. Nesse sentido, ele chamou a atenção para o entendimento de que se trata de uma doença. Ou seja, o corpo, especificamente o cérebro, está doente. “É um órgão que está desequilibrado em nível de neurotransmissores, o que gera sintomas físicos, o corpo dói. Nós nos sentimos doentes não só na alma, mas também no corpo”, disse ele em seu webchat. A depressão gera um desconforto significativo e perceptível nas pessoas, uma mudança que os outros são capazes de ver, mas é comum que esses outros procurem esse comportamento, mas não busquem apoio. “É preciso apoiar e ouvir”, disse ele sobre a necessidade de entender os processos emocionais das pessoas. Ou seja, a comunicação como ferramenta fundamental para conectar, reconhecer, aceitar e tratar a depressão, uma doença que “se caracteriza por não ter prazer em nada, o que me dava prazer não me dá mais prazer, a ponto de nem mesmo seus filhos serem prazerosos. Tudo o irrita, incomoda, cansa”.
Depressão e ansiedade Muitas vezes, o psicólogo ressaltou que a depressão é semelhante à ansiedade. Entretanto, ambas frequentemente coexistem na pessoa deprimida: “É preciso saber quando se trata de depressão ansiosa ou ansiedade depressiva”. De fato, ele alertou que, quando a ansiedade não é bem tratada, a pessoa pode correr o risco de ter depressão. Quando perguntado sobre como diferenciar entre fadiga mental e depressão, Reverol disse que não é a mesma coisa que depressão. Reverol indicou que não é a mesma coisa e que a característica diferenciadora é o tempo. “Quando alguém se sente cansado, não há problema algum em descansar, em se soltar, não há problema algum. Faça isso porque é positivo, mas se a pessoa passa mais de duas semanas, três semanas com o mesmo cansaço, sem nenhum esforço aparente, estamos diante de um padrão que indica que pode haver um processo depressivo”. Sem dúvida, a situação atual afetou a saúde mental das pessoas. O desconhecido, o isolamento e a depressão exógena alteraram as emoções humanas em um contexto global de pandemia. A perda de um membro da família pode causar depressão e, em situações dessa complexidade, recomenda-se ajuda psicológica para facilitar o gerenciamento emocional e a reconexão com a vida, agora sem essa pessoa.
Para Reverol, algumas maneiras de evitar a depressão causada pelo esgotamento, isolamento e crise de saúde são recorrer à rede de apoio, aceitar a situação, comer bem, hidratar-se bem, buscar espaços saudáveis com a família, fazer atividades com a família a partir da construção, deixar a tecnologia de lado porque ela é viciante e, depois de dois anos de confinamento sempre olhando para a tela, poderia gerar danos neurológicos e criar um processo de dependência à tecnologia. O psicólogo clínico, formado pela Universidade ISEP e cuja dupla qualificação oficial lhe permitiu exercer a profissão em países latino-americanos (México e Venezuela), insistiu que falar sobre a humanização da depressão não é o mesmo que normalizar a depressão. “Humanizar é expor a ajuda, buscar a ajuda de que preciso para estar bem comigo mesmo e, depois, estar bem com os outros“.
Reverol: “não se quebre para completar o outro”. Sobre a relação entre depressão e Burnout, a psicóloga convidou a evitar a sobrecarga de trabalho. “É importante verificar se gostamos do trabalho que fazemos. É importante entendê-lo e a sobrecarga sempre vai gerar, de alguma forma, aquela ruptura emocional em que vamos poder nos machucar”. A esse respeito, ela refletiu sobre a importância de “não nos quebrarmos para completar o outro”. Seja o outro o parceiro, a família, a organização. “Temos que cuidar de nós mesmos, não nos quebrarmos para completar outra coisa, porque corremos o risco de deixar de ser você e nos tornarmos uma dinâmica de trabalho, uma dinâmica social ou um relacionamento tóxico”. Superar a depressão exige da pessoa um compromisso com sua humanidade e uma revisão e conexão consigo mesma, o que pode começar com ser honesto, saber o que quer e perceber e se perguntar o que estou fazendo e por que estou fazendo, é deixar de ser autômato, refletiu o especialista.
O cérebro e a depressão O cérebro é o órgão que é afetado quando uma pessoa está deprimida, e entender como e por que isso acontece ajuda a compreender que a depressão, na verdade, tem múltiplas influências: genética, química, biológica e social. Reverol explicou que é a serotonina a responsável pelos processos de ansiedade e depressão. “Quando ela está muito alta, é quando são gerados os processos ansiosos, essa serotonina alta é o que gera o pensamento de preocupação, a preocupação porque tudo está voltado para o futuro”. O desequilíbrio da serotonina “afeta muito o lobo frontal, onde temos quatro áreas: julgamento, tomada de decisões, priorização e controle de impulsos. O oposto é a depressão. Há uma ausência de serotonina em nível de neurotransmissor e começa a inibição emocional”, disse ele. O psicólogo, além de destacar a ajuda profissional psicológica ou psiquiátrica, também enfatizou a importância da farmacologia. “Sabemos que nem sempre é preciso medicar, mas há momentos em que é preciso. A farmacoterapia é fundamental, pois para isso existem os inibidores seletivos da recaptação de serotonina. Os antidepressivos o ajudarão a se sentir melhor e a tomar melhores decisões na vida. Mas eles sempre devem ser administrados sob supervisão médica.
A humanização da depressão é o apoio e a empatia. Uma pessoa com depressão, destacou a psicóloga, é ajudada “com empatia, acompanhando-a, dando-lhe apoio. Não se trata de forçar a pessoa, mas de alertá-la: eu me sinto diferente, estou com você, podemos buscar ajuda emocional, estou aqui com você. Ouvir com o coração é a coisa mais linda que podemos fazer por esse paciente. Sem julgar, sem criticar. Respeitando as emoções e como cada pessoa se sente, identificando o que pode estar acontecendo e ouvindo genuinamente. O acompanhamento é fundamental até que eles digam eu preciso de ajuda, vamos buscar ajuda”. O psicólogo destacou a influência da genética na depressão e, dada a alta incidência de depressão em adolescentes, disse que, a partir dos 7 anos de idade, as crianças podem ser levadas ao psicólogo e alguns traços que alertam para um processo depressivo podem ser levados em conta. Ele alertou que, na adolescência, a depressão é disfarçada de vício. Esse pode ser o primeiro gatilho de alerta para as famílias dos adolescentes, sendo o segundo o isolamento. Reverol encerrou a conversa refletindo sobre a necessidade de as pessoas se conectarem consigo mesmas, identificarem suas emoções e comportamentos e buscarem uma rede de apoio, uma ajuda genuína que lhes permita lidar com a depressão e superá-la, para cuidar de sua saúde mental. “Humanizar a depressão também significa aceitar quem somos como seres humanos, que nosso cérebro é um órgão e, como tal, pode ficar doente. Humanizar a depressão é abraçar nosso propósito”.