28 de setembro de 2021, Mariela Carrasco

“Se for só paixão, o relacionamento de casal não dura mais de 4 anos”

A compatibilidade emocional-psicológica é a chave para a sobrevivência do relacionamento, além da atração sexual. Assim considera o Dr. Enrique García Huete, especialista em psicologia clínica e coaching, que conversou com a Universidade ISEP sobre os relacionamentos de casal.

Entrevista com o Dr. Enrique García Huete, especialista em psicologia clínica e coaching. Seus mais de quinze anos de experiência no treinamento em habilidades de comunicação e resolução de conflitos o credenciam como um dos psicólogos mais destacados em processos de seleção para realities ou talent shows na Espanha. É autor de Aprender a pensar bem e A arte de se relacionar. Conversamos com ele para descobrir mais detalhes de seu estudo.
Muitos livros e estudos falam sobre a química do amor, dos fatores biológicos que nos levam a sentir atração por alguém. Mas você, em seu seminário ‘O amor e as relações de casal’, fala sobre a compatibilidade emocional/psicológica como a chave para a sobrevivência do relacionamento, além da atração sexual. Como podemos saber se somos ou não compatíveis com alguém? Além dos aspectos biológicos, hormonais, químicos… existem variáveis de personalidade, inteligência e outras que permitem prever se você é mais ou menos compatível. Os mais semelhantes são mais compatíveis. Podemos nos apaixonar por alguém que não nos atraia sexualmente? Existem diferentes tipos de enamoramento e é preciso diferenciar o amor paixão do amor estável e de convivência, mas a atração sexual costuma estar presente no início do relacionamento e durante a relação. Mas sim, é possível se apaixonar sem essa atração sexual. Todos temos amigos com casais que achávamos que não iam durar nada e que mais de dez anos depois ainda estão juntos. O que garante o sucesso em um relacionamento de casal? Três grandes fatores: a atração, a convivência ou amor amizade e o amor responsável, onde os valores e metas na vida podem assegurar uma relação prolongada. É possível prever a duração de um casal? Nunca exatamente, mas é possível prever probabilidades. Se é apenas amor paixão, a duração não é superior a 3-4 anos, enquanto se há semelhança na paixão, no amor de convivência e no amor responsável, a relação pode se prolongar no tempo indefinidamente.
Como as novas tecnologias e aplicativos de smartphone afetam as relações de casal? Estão presentes desde o cortejo até a separação. Supõem um contato constante na fase inicial: há casais que se “conheceram pela internet” e o amor surgiu por mensagens e chats. Depois, as relações se consolidam e as redes sociais e aplicativos continuam presentes em suas diferentes formas (mensagens/Facebook) onde se compartilham notícias sobre o relacionamento (“Marta está em um relacionamento com Pedro”, “Marta está noiva de Pedro”, “Marta está em um relacionamento complicado com Pedro”, etc.). Também desempenham um papel importante como meio de resolução de problemas e, inclusive, há rompimentos pelo WhatsApp. Muitas terapias de casal começam por decisão de apenas um dos membros e a outra parte rejeita a terapia inicialmente. Por que isso acontece? Como se poderia normalizar a terapia de casal? Existem preconceitos em relação às terapias por parte de alguns setores da população e um certo mito de “devemos resolver isso por nós mesmos”. Em países anglo-saxões, há uma maior cultura de recorrer ao “conselheiro”. Para normalizar a terapia de casal, é necessário ver o terapeuta como um “técnico” do comportamento humano que: permite avaliar de forma objetiva e, após a avaliação, devolver uma hipótese do conflito e diretrizes de intervenção.
A terapia de casal é útil apenas se o casal for compatível ou pode ajudar a transformar casais incompatíveis em compatíveis? Não é necessária uma compatibilidade total. Quando aparecem variáveis não compatíveis ou menos compatíveis, trabalha-se no sentido de “consensuar”, dividir funções e enfatizar os pontos fortes do casal. Acredita que todos os casais deveriam passar por consulta alguma vez? Todo casal tem momentos altos e momentos de crise. A palavra crise está relacionada com mudança e são esses momentos que podemos aproveitar para melhorar o relacionamento. Uma consulta a tempo reduz os níveis de conflitos e evita o que é mais frequente: procurar ajuda quando o conflito já é longo e intenso. Um dos pontos de seu seminário “Aprenda com os Melhores” fala sobre a prevenção. Até que ponto isso é importante para o sucesso de um casal? Estamos trabalhando na “prevenção” de conflitos e rupturas, já que quando alguém toma a decisão de formar um casal (clima de emoção positiva – perspectiva positiva), é possível detectar possíveis incompatibilidades e aconselhar como manejá-las se aparecerem. Quando não há solução? Quando não há solução, existe a terapia de separação, onde se considera a vida de cada um dos membros e se realiza um aconselhamento individual e, sempre que possível, as diretrizes para o relacionamento posterior, especialmente se houver filhos. Alguns casais se separam porque um dos dois decide que não quer mais. Qual é a chave para desenamorarse e evitar o sofrimento? Existe alguma maneira de deixar um parceiro sem dor? É diferente deixar do que ser deixado. Normalmente, quem deixa é porque percebe a nova situação como mais favorável ou que lhe tira sofrimento. Em contrapartida, para quem é deixado, especialmente se ainda ama, trabalha-se a perda e estrutura-se um novo plano de vida. Um relacionamento de casal pode sobreviver sem amor? Sim. De fato, há outras variáveis do amor responsável, onde os valores e crenças desempenham um papel importante. Exemplos como continuar pelo bem dos filhos em tempos de crise, manter o relacionamento por dificuldades econômicas, juntar solidões, etc.
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