26 de outubro de 2021, Mariela Carrasco

A hiperfelicidade, essa absurda falácia

A sociedade atual está sendo perigosamente influenciada por indivíduos esbeltos de conteúdo vazio; que estão guiando a multidão para o abismo utópico da felicidade perene, da existência perfeita e de um otimismo ilusório excessivo. Vidas felizes onde abunda a perfeição e escasseia a tristeza, a dor e o fracasso.

A sociedade e a Hiperfelicidade A sociedade, em sua maioria, parece ser orientada por uma minoria que desconhece os processos internos do ser humano e os fatores externos a que ele está exposto; isso leva a uma iminente frustração coletiva que pode resultar em uma massiva afetação da saúde mental da população mundial e uma dolorosa perda de identidade como ser de crenças, afetos e emoções. Frases de superação pessoal repetitivas como “tudo é possível – o limite é o céu – querer é poder – você é o único artífice do seu futuro – nascemos para ser felizes, não para o sofrimento ou a dor”; embora encorajadoras e potencializadoras de condutas funcionais e positivas, tendem a gerar o efeito contrário se não forem tratadas cuidadosamente e contextualizadas em torno da especificidade do sujeito. Facilmente, podem passar de ideias motivadoras de superação a mandatos autodestrutivos, em que se sataniza tudo aquilo que seja discordante. Geralmente, esse tipo de informação emitida por essa pequena minoria está sendo proliferada perigosamente de forma parcial, com o objetivo de que os receptores obtenham apenas o que é conveniente e oportuno tanto para o emissor quanto para eles mesmos, pois simultaneamente estão sendo abordados apenas com o que a população quer ouvir, e como recompensa, aqueles que promovem essa falaciosa e utópica filosofia continuam ganhando adeptos que erroneamente a corroboram. Assim, anula-se a verdadeira realidade, alegorizando o resultado final, sem enfatizar nem aprofundar o processo. E é justamente nesse processo que se evidenciam a infinidade de fatores que constituem cada pessoa, que não são apenas internos, mas também externos. Precisamente nesse caminho de ações que possibilita determinado resultado, tornam-se visíveis as fraquezas, os limites, as ameaças, as fortalezas e as oportunidades de cada ser humano, que são diferentes para cada caso.
O perigo da hiperfelicidade continua Neste ponto, a postura excessivamente otimista promotora da hiperfelicidade perene torna-se perigosa; pois não apenas costuma relegar as diferenças individuais dos sujeitos, como também tende a negar a existência de processos próprios do ser humano e extremamente importantes para sua evolução e sobrevivência, como as emoções em todo seu esplendor e em toda sua gama, assim como situações de dor, perda e fracasso; que dificilmente podem ser evitadas, pois, em geral, são o produto de agentes externos a cada pessoa, fora do controle pleno e absoluto do indivíduo. O fato de virar as costas a algo, pretendendo esquivar-se ou negar sua existência, não faz com que desapareça, mas sim que resista, e isso o torna mais forte e tóxico. Não se trata de anular o indivíduo como promotor e gestor de felicidade, e muito menos negar suas capacidades para alcançar metas propostas; no entanto, cabe enfatizar que, embora o ser humano esteja dotado para assumir novos desafios e alcançar conquistas e sucesso, também em sua natureza humana estão constituídos limites e fraquezas associados tanto a fatores internos quanto externos fora de seu alcance e que não podem ser controlados.
O perigo da hiperfelicidade continua Neste ponto, a postura excessivamente otimista promotora da hiperfelicidade perene torna-se perigosa; pois não apenas costuma relegar as diferenças individuais dos sujeitos, como também tende a negar a existência de processos próprios do ser humano e extremamente importantes para sua evolução e sobrevivência, como as emoções em todo seu esplendor e em toda sua gama, assim como situações de dor, perda e fracasso, que dificilmente podem ser evitadas, pois, em geral, são o produto de agentes externos a cada pessoa, fora do controle pleno e absoluto do indivíduo. O fato de virar as costas a algo, pretendendo esquivar-se ou negar sua existência, não faz com que desapareça, mas sim que resista, e isso o torna mais forte e tóxico. Não se trata de anular o indivíduo como promotor e gestor de felicidade, e muito menos negar suas capacidades para alcançar metas propostas; no entanto, cabe enfatizar que, embora o ser humano esteja dotado para assumir novos desafios e alcançar conquistas e sucesso, também em sua natureza humana estão constituídos limites e fraquezas associados tanto a fatores internos quanto externos fora de seu alcance e que não podem ser controlados.
Quando a felicidade se torna normalidade Esta ideia de pseudofelicidade permanente de fácil acesso expõe os indivíduos a situações de frustração ao estabelecer metas que beiram o irreal e ilusório, e até impossível; porque pretende que os indivíduos permaneçam em um estado constante e inamovível de calma, serenidade e alegria, suprimindo, por sua vez, emoções de medo, ira e tristeza inatas nas pessoas e necessárias para sobreviver. A sensação de incapacidade e, consequentemente, de frustração, surge quando se acredita que alcançar este estado de hiperfelicidade é mais a regra do que a exceção; entrando assim em discordância e animosidade com tudo aquilo que supõe o contrário. Afiançar a ideia de que cada indivíduo é o único que pode estabelecer seus limites e que só depende de si mesmo para alcançar suas metas é uma forma disfarçada, mas poderosa, de aniquilá-lo como ser social, político e em constante relação com o “outro” e com o entorno natural em que habita. Embora na sua individualidade o ser humano seja poderoso, esse poder se fortalece em sua vinculação com os demais e com o meio que o circunda; a gênese de sua grande fortaleza e empoderamento subjaz na capacidade de se relacionar com o outro como ser socioafetivo e político, assim como nos vínculos que tece com o mundo natural onde se desenvolve. Esta falsa ideia possivelmente resultará em um ser egoísta, isolado e de mentalidade superficial, que avançará apenas na busca de seu próprio bem-estar, ignorando o bem comum. Além disso, não se pode ignorar que habitamos em um mundo dinâmico, onde a própria mudança e a instabilidade geram caos, problemáticas sociais, culturais e políticas que afetam em grande medida o bem-estar dos indivíduos. Negar a existência da dor, tristeza, ira e inconformidade, para adentrar inexperientemente no vazio da hiperfelicidade, é o que adoece o corpo, a mente e as emoções; a incapacidade de sentir e expressar emoções próprias do ser humano gera a castração das mesmas, as quais não desaparecem, mas se acumulam à espera de sair à luz de maneira explosiva e disfuncional, distorcendo a relação consigo mesmo, com o outro e com o mundo que habita.
A felicidade, um modo de vida Portanto, a felicidade, mais do que uma meta a ser alcançada, deve constituir-se em uma forma de viver que nada tem a ver com a anulação de momentos de tristeza, raiva, dor ou fracasso. Pelo contrário, é um estado que permite viver em harmonia com tudo o que compõe a própria existência do ser humano, a qual se constrói em caminhos sinuosos onde abundam ascensos, descensos, curvas e alguns trechos retos. As situações de dor e fracasso permitem reorientar e reacomodar o caminho de acordo com as competências e habilidades próprias, estabelecendo metas viáveis e reais que nada têm a ver com expectativas inalcançáveis criadas pelo coletivo. Não se trata de castrar o ser sonhador em sua criatividade e imaginação, mas sim de abrir um mundo de possibilidades reais a partir da reconciliação com suas fraquezas e sombras. É promover a adoção de comportamentos resilientes, curativos e restauradores que permitam a coexistência entre as diversas emoções e situações que experimentamos, pois cada uma, em sua natureza, gerará aprendizagens relevantes para a sobrevivência e evolução. A dor nos torna mais sensíveis e, através do choro, conseguimos liberar energias tóxicas acumuladas; a tristeza aquieta e silencia, permitindo conectar com o mundo circundante; a ira faz aflorar feridas reprimidas e não resolvidas. É válido, permitido e curativo estar triste, aborrecido, inconformado; é normal sentir dor e pena pelo fracasso; é natural não estar sempre em completa calma, alegria e serenidade. Essa variedade de emoções, sentimentos e situações faz parte do processo equilibrado e evolutivo do desenvolvimento humano, o qual se potencia a partir da coexistência harmoniosa dos mesmos.
Inconvenientes da hiperfelicidade Por outro lado, pretender viver em um estado de felicidade permanente leva à frustração, ao descontentamento, a sensações de fracasso e incapacidade, porque a própria natureza coexiste em um constante caos e instabilidade para poder reestruturar a ordem. As emoções são pequenas faíscas que estão sempre acesas; embora muitas vezes não percebamos sua luz, são inatas e, portanto, estão aderidas e sujeitas à própria essência de cada ser. Anulá-las é tentar apagar algo que tem luz própria e brilha por si só; por mais que se tente ocultá-las, sua luz continuará acesa. A felicidade, mais do que um estado permanente, irreal e ilusório, é constituída por pequenos instantes que coexistem com a dor, a ira, o medo e a tristeza. As sombras também fazem parte do micro universo existente em cada ser humano, e na medida em que se consiga harmonizar com elas, a existência será mais plena e equilibrada.
A perfeição da existência não reside na capacidade de ser feliz e de não estar triste; a maturidade emocional se manifesta precisamente na capacidade que cada pessoa tem para assumir e reagir às diversas situações que experimenta e na habilidade de fluir diante delas. Não se trata de negar ou rejeitar o que causa dano ou dor, como a doença, a morte, a perda de algo ou alguém, o fracasso diante de uma meta não alcançada, a impotência, a raiva ou o medo diante de eventos estressantes ou de violência; pelo contrário, trata-se de aceitá-los a partir do reconhecimento de que eles existem, que são reais e que a melhor maneira de assumi-los e superá-los é reconciliar-se com sua natureza de não felicidade, de não agrado, de não serenidade. Trata-se de nomeá-los pelo que são, vinculando-se a eles a partir da harmonia e assumindo o aprendizado que cada um traz. É por isso que muitas pessoas recorrem a profissionais especializados em Bem-Estar Emocional, os quais ajudam a melhorar a capacidade de buscar a própria felicidade.
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