Pobreza, para quem a sofre, não há psicólogos. Com essa polêmica afirmação começa nosso post.
Como afeta a pobreza à nossa saúde mental? Outro dia ouvimos uma palestra de Mayra Arena na qual ela se perguntava o que os pobres têm na cabeça. Com seu discurso, além de aprender, começamos a investigar sobre o tema:
Nascer pobre é morrer pobre na maioria dos países Um relatório de maio de 2018 do Banco Mundial indica que as possibilidades de que as pessoas avancem na escala socioeconômica, especialmente nos países em desenvolvimento, estão estagnadas. Ou seja, as condições precedentes parecem ser mais determinantes do que as habilidades individuais. Além disso, segundo o último relatório técnico do INDEC, no segundo semestre de 2018, na Argentina, 25,7% da população vivia abaixo da linha da pobreza.
A relação entre a pobreza e o cérebro As condições de pobreza parecem afetar o desenvolvimento do nosso cérebro durante a infância. Assim demonstra o estudo da Universidade de Granada (2016), no qual se examinou a influência que os fatores contextuais tinham na função atencional. Dessa forma, conseguiram obter dados de que aquelas crianças que provinham de famílias com menores níveis econômicos e menores níveis educativos apresentavam um pior funcionamento nas áreas do cérebro relacionadas com as provas administradas, evidenciando assim consequências no seu desenvolvimento cerebral esperado. Outras pesquisas identificaram que a desnutrição precoce, comum em classes sociais desfavorecidas, provocava alterações anatômicas e metabólicas em diferentes estruturas cerebrais relacionadas com as competências educativas. Lembram-se da meritocracia? Bem, ao que parece, é uma fábula que justifica de maneira irreal por que alguns têm e outros não.
Pobreza e transtornos mentais A OMS explica em seu plano de ação em saúde mental que a pobreza é uma condição que aumenta a vulnerabilidade de sofrer um transtorno mental e amplia as consequências associadas aos mesmos, como é o caso do estigma, da exclusão e da violação de direitos básicos. Além disso, os transtornos psicológicos diminuem a capacidade produtiva das pessoas, sendo as famílias quem costuma absorver o impacto econômico. Ou seja, estamos falando de um ciclo sem fim. Mani e outros autores apresentaram um estudo na revista Science (uma das mais importantes em divulgação científica no mundo) em que simularam situações de finanças, obtendo como resultado que os sujeitos cuja condição de pobreza se reduzia em comparação com o rendimento em uma prova de desempenho cognitivo, se comparados com o rendimento de pessoas no grupo de melhor posição econômica. Os dados reportados sugerem que ser pobre significa não apenas suportar situações com escassez de dinheiro, mas também com escassos recursos cognitivos. Simplificadamente e a modo de exemplo, evocar afetações financeiras teria um impacto cognitivo comparável a perder uma noite de sono.
Ser pobre é ser invisível para a sociedade Ser pobre é ter um grande superpoder: ser invisível para o resto da sociedade. Na Argentina, a pobreza não é apenas uma condição econômica, também é uma negação sistemática ao acesso de direitos e ao exercício dos mesmos, como é o direito à saúde mental. Devemos gerar igualdade de condições, serviços de saúde universais, gratuitos e de qualidade, e não esquecer jamais que o Estado tem a maior responsabilidade em gerar estratégias e políticas que incluam os setores mais vulneráveis. Ser pobre não deve ser uma condenação. Devemos cuidar de nós para cuidar dos outros.